Mulheres bem-sucedidas, mulheres violentadas. Mulheres com altos salários,
mulheres sem salário. Mulheres com diplomas, mulheres analfabetas.Mulheres com
filhos saudáveis e em boas escolas,
mulheres com muitos filhos e sem
perspectiva de vida. Mulheres bem
casadas e amadas, mulheres abandonadas
pelos consortes. Mulheres estruturadas emocionalmente, mulheres precisando de ajuda. A lista é longa e sempre inclui
mulheres.
Ao criar a mulher, Deus fez uma ajudadora idônea, ou seja,
adequada e competente. A palavra “ezer”, que
significa “ajuda”, é usada várias vezes no Antigo Testamento, mas nunca se
referindo a um ajudador subordinado. Vejamos este exemplo: “Elevo
os meus olhos para os montes, de onde me virá o socorro (‘ezer’)?” (Sal.121.1-2). A preposição
“neged” significa “apropriado para”. Assim,“ezer” + “neged” significa
“apropriado” e “competente”. Além disso,
Deus formou o homem primeiro e descobriu que ele estava só. Então o fez dormir e criou a
mulher. Nisso vemos a beleza do tratamento
de Deus para conosco. A mulher conheceu a Deus antes de conhecer o homem. Foi Deus quem apresentou
um ao outro.
A relação ser humano–Criador não depende do gênero e Jesus, no Novo
Testamento, ratifica essa singularidade.
Ao pecarem, homem e mulher perdem as mordomias do jardim. A justiça de
Deus não pretere nem prefere nenhum dos dois. Deus fez a mulher diferente, mas
não inferior; fez o homem diferente, mas não superior. Somos distintos na
maneira de pensar, de agir e de ver o mundo. Porém, essas diferenças não fazem
com que um seja melhor que o outro. Na cruz de Cristo, Deus nos trata com o
mesmo carinho e amor, mas também com a mesma justiça.
Recentemente o presidente dos Estados Unidos decretou que o salário das mulheres, que era 30% menor que o
dos homens, deve se igualar a este. O fato de a mulher ter as mesmas
responsabilidades dos homens, mas receber um salário menor que o deles é
discriminação, e vemos isso diariamente ao nosso redor. A mulher tem ganhado
espaço nas áreas tecnológicas e científicas, antes de predomínio masculino.
Isso deve ser celebrado. Não se trata de levantar a bandeira a favor de um e
contra o outro, mas de entender que Deus nos fez diferentes, porém igualmente
competentes.
No meio evangélico, no entanto, ainda há certo preconceito, por mais que se
negue. As mulheres podem trabalhar muito bem, mas no seu “quadrado” feminino. A
mensagem é: “Todo o espaço é de vocês, mas lá. Não ameacem a nossa liderança!”
As armas são sutis. Porém, percebemos
nas entrelinhas e, às vezes,
nos discursos de apologia à mulher os muros construídos. Como nosso
compromisso é com Jesus, seguimos em frente. Em alguns grupos denominacionais,
a mulher é “apta” para todo trabalho, menos para ser pastora, presbítera,
diaconisa ou mensageira pública da Palavra; ou seja, cargos de liderança
espiritual, não. Alguns usam textos bíblicos para
justificar suas posições,
mas a
mensagem é que trata-se de um espaço de poder que não pode ser compartilhado,
pois isso seria uma ameaça.
Também é lamentável ver ainda tanta violência contra a mulher, inclusive dentro
dos arraiais evangélicos. Há homens que são líderes na igreja, mas em casa
agridem e desrespeitam a esposa.
Comportamentos assim
resultam de uma concepção errada do que
é a criação de Deus – homem e mulher com direitos e deveres, não de um para com
o outro, mas de ambos consigo mesmo, com o outro e com Deus.
Apesar de tudo, tenho esperança de que nossas filhas e netas verão novos
tempos. As mudanças de paradigma no âmbito religioso são sempre muito lentas.
Independente do nosso perfil, da crise ou da situação que estejamos passando,
somos criação de Deus e, acima disso, filhas adotadas por meio de Jesus Cristo.
Comemoremos as possibilidades que surgem
quando homem e mulher, com suas
diferenças, se colocam ao dispor de Deus para abençoar as pessoas.
(Nancy Gonçalves Dusilek é membro da Igreja Batista de Itacuruçá, RJ, e autora de “Mulher sem Nome”).
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