sábado, 3 de março de 2012

COMEMORAR OU LAMENTAR?

                                                                                                                 por Nancy Gonçalves Dusilek
 

Mulheres bem-sucedidas, mulheres violentadas. Mulheres com altos salários, mulheres sem salário. Mulheres com diplomas, mulheres analfabetas.Mulheres com filhos saudáveis e em boas escolas,  mulheres com  muitos filhos e sem perspectiva de vida.  Mulheres bem casadas e amadas,  mulheres abandonadas pelos consortes. Mulheres estruturadas emocionalmente, mulheres precisando  de ajuda. A lista é longa e sempre inclui mulheres.
 
Ao criar a mulher,  Deus fez uma  ajudadora idônea,  ou seja,  adequada  competente. A palavra “ezer”,  que significa “ajuda”, é usada várias vezes no Antigo Testamento, mas nunca se referindo a um ajudador subordinado. Vejamos este exemplo: “Elevo os meus olhos para os montes, de onde me virá o socorro (‘ezer’)?”  (Sal.121.1-2).  A preposição  “neged” significa “apropriado para”. Assim,“ezer” + “neged” significa “apropriado”  e “competente”.  Além disso,  Deus formou o homem primeiro e descobriu que ele  estava só. Então o fez dormir e criou a mulher. Nisso vemos a  beleza do  tratamento  de Deus  para conosco.  A mulher conheceu  a Deus antes de conhecer o homem. Foi Deus quem  apresentou  um  ao  outro.  A relação ser humano–Criador não depende do gênero e Jesus, no Novo Testamento, ratifica essa singularidade.  Ao pecarem, homem e mulher perdem as mordomias do jardim. A justiça de Deus não pretere nem prefere nenhum dos dois. Deus fez a mulher diferente, mas não inferior; fez o homem diferente, mas não superior. Somos distintos na maneira de pensar, de agir e de ver o mundo. Porém, essas diferenças não fazem com que um seja melhor que o outro. Na cruz de Cristo, Deus nos trata com o mesmo carinho e amor, mas também com a mesma justiça.
 
Recentemente  o presidente dos  Estados Unidos decretou que o  salário das mulheres, que era 30% menor que o dos homens, deve se igualar a este. O fato de a mulher ter as mesmas responsabilidades dos homens, mas receber um salário menor que o deles é discriminação, e vemos isso diariamente ao nosso redor. A mulher tem ganhado espaço nas áreas tecnológicas e científicas, antes de predomínio masculino. Isso deve ser celebrado. Não se trata de levantar a bandeira a favor de um e contra o outro, mas de entender que Deus nos fez diferentes, porém igualmente competentes.
 
No meio evangélico, no entanto, ainda há certo preconceito, por mais que se negue. As mulheres podem trabalhar muito bem, mas no seu “quadrado” feminino. A mensagem é: “Todo o espaço é de vocês, mas lá. Não ameacem a nossa liderança!” As armas são sutis.  Porém, percebemos nas  entrelinhas e,  às vezes,  nos discursos de apologia à mulher os muros construídos. Como nosso compromisso é com Jesus, seguimos em frente. Em alguns grupos denominacionais, a mulher é “apta” para todo trabalho, menos para ser pastora, presbítera, diaconisa ou mensageira pública da Palavra; ou seja, cargos de liderança espiritual, não.  Alguns usam textos  bíblicos para  justificar suas posições,  mas  a
mensagem é que trata-se de um espaço de poder que não pode ser compartilhado, pois isso seria uma ameaça.
 
Também é lamentável ver ainda tanta violência contra a mulher, inclusive dentro dos arraiais evangélicos. Há homens que são líderes na igreja, mas em casa agridem  e desrespeitam a  esposa.  Comportamentos  assim resultam  de uma concepção errada do que é a criação de Deus – homem e mulher com direitos e deveres, não de um para com o outro, mas de ambos consigo mesmo, com o outro e com Deus.
 
Apesar de tudo, tenho esperança de que nossas filhas e netas verão novos tempos. As mudanças de paradigma no âmbito religioso são sempre muito lentas.
 
Independente do nosso perfil, da crise ou da situação que estejamos passando, somos criação de Deus e, acima disso, filhas adotadas por meio de Jesus Cristo.
 
Comemoremos as possibilidades  que surgem quando homem e mulher,  com suas diferenças, se colocam ao dispor de Deus para abençoar as pessoas.
 

 (Nancy Gonçalves Dusilek é membro da Igreja Batista de Itacuruçá, RJ, e autora de “Mulher sem Nome”).

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